Aconteceu de verdade. Uma fresta de janela, um pouco de sol, um cisco no ar. E eis que eu cometo um poema...
CISCO
O risco luminoso
corta o quarto à minha frente.
É um clandestino raio de sol
que se esgueira pelo canto da janela
e vai pintar estreita mancha dourada no chão.
corta o quarto à minha frente.
É um clandestino raio de sol
que se esgueira pelo canto da janela
e vai pintar estreita mancha dourada no chão.
Em pleno ar,
entre janela e mancha,
paira o risco de luz
invulnerável, intocável, imóvel
presente do sol para mim, pois só eu o vejo.
entre janela e mancha,
paira o risco de luz
invulnerável, intocável, imóvel
presente do sol para mim, pois só eu o vejo.
Dentro dele, poeiras invisíveis se tornam magicamente reais;
e um cisco,
fragmento ínfimo de pó,
baila sozinho no recorte de ar
desafiando a mim, ao planeta, ao universo.
e um cisco,
fragmento ínfimo de pó,
baila sozinho no recorte de ar
desafiando a mim, ao planeta, ao universo.
Paira, impávido. Sobe um pouco, desce.
Sua mera existência me parece ousadia suprema:
pois que importa a este mundo insano,
em que os poderes e as posses e as raivas e as bombas se chocam,
a persistência de um cisco que o raio de sol fez visível?
Nada, dirão todos os sensatos.
Mas eu, que me alimentei dos Pessoas e Quintanas e Barros e Mias, sei a verdade.
Aquele cisco é tudo, é o universo, sou eu –
eu bailando entre as minhas incertezas e as certezas dos outros
enquanto tudo explode lá fora.
Mas eu, que me alimentei dos Pessoas e Quintanas e Barros e Mias, sei a verdade.
Aquele cisco é tudo, é o universo, sou eu –
eu bailando entre as minhas incertezas e as certezas dos outros
enquanto tudo explode lá fora.
Aquele cisco pode ser ínfimo, desimportante, efêmero.
Mesmo assim, nos poucos segundos em que o raio de sol riscou o ar,
ele se tornou parte de mim,
foi insensata reflexão
e agora – para sempre – será poema.
Mesmo assim, nos poucos segundos em que o raio de sol riscou o ar,
ele se tornou parte de mim,
foi insensata reflexão
e agora – para sempre – será poema.
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