quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

Literatura Fantástica Brasileira, Cidade Invisível e outros bichos

 

Finalmente consegui ver todos os epis de Cidade Invisível!

Independentemente do fato de conhecer o Draccon há anos, e ter curtido a primeira versão de Dragões de Éter assim que saiu (ainda lembro meu maravilhamento ao ler a frase “E um lobo lhe devorou a avó”…), fiquei superfeliz por uma série do amazing Carlos Saldanha bombar na Netflix com tema brazuca.

Li críticas variadas e achei que deveria fazer a minha, apesar de o querido Marco Haurélio ter dito tudo e muito mais em seu artigo, em https://marcohaurelio.blogspot.com/2021/02/minhas-impressoes-sobre-cidade-invisivel.html – eu assinaria embaixo, embora não o fizesse com tanta propriedade, como nas palavras do Marco!

A excelente produção da série e a forma inteligente como os mitos e lendas foram tramados me agradou muito. Meu destaque fica para o Saci, transposto para o momento atual com uma sagacidade típica do próprio personagem… Mas apreciei todos os episódios e, claro, quero mais!

Os autores do argumento de CI, Raphael Draccon e Carolina Munhóz, fazem parte de uma geração de escritores que comprovaram haver espaço de sobra (e uma infinitude de leitores) para o Fantástico na Literatura Brasileira (só a famosa trinca Eduardo Spohr, André Vianco e o próprio Draccon contam fãs literários aos milhões). Tenho tentado ler tudo o que sai de brasileiro no gênero, o que é uma missão quase impossível, pois tem muito, muito material no mercado. Também vejo o que posso de filmes e séries; sabemos que outros seriados brasileiros já chegaram ao streaming, como “3%”, “Ninguém tá olhando” e “A Todo vapor” (esta abordando temática steampunk).

De FC a Fantasia, passando por Horror e Afrofuturismo, minhas leituras abrangem desde as pioneiras (como as maravilhosas Helena Gomes, Giulia Moon, Martha Argel e Simone Saueressig) até as autoras bissextas (como a sensacional Cristina Lasaitis).

Nessa trajetória leitora conheci lordes e damas da Alta Fantasia e FC, gente do calibre de Ana Lúcia Merege, Nikelen Witter, Roberto Sousa Causo, Felipe Castilho, Bráulio Tavares, errepegistas irretocáveis como Christopher Kastensmidt, os expoentes do horror Oscar Nestárez e Felipe Larêdo, além de contistas fantásticas como Camila Fernandes e Finisia Fideli – e hiperespecialistas no assunto, como o múltiplo Luis Braz (aka Nelson de Oliveira e/ou Paisagem Personas). O Afrofuturismo aqui chegou firme e forte com a obra de Fábio Kabral e Lu Ain Zaila. Isso sem tocar nos muitos e talentosíssimos autores de Literatura juvenil e/ou para jovens adultos que mergulham fundo no fantástico, como Luiz Antônio Aguiar, Caio Riter, Regina Drummond, Flávia Côrtes, Fábio Barreto, Shirley Souza, Christian David, Flávia Muniz, Tiago de Melo Andrade, Antônio Schimeneck, os maravilhosos autores de origem indígena que recontam mitos e lendas, além dos que brincam com a História (Ricardo Azevedo e Samir Machado de Machado) e tanta gente mais – até peço desculpas por não preencher este espaço com o nome de todos que mereceriam citação (mas vocês sabem quem são, e são ótimos). Vejam a foto de parte da minha biblioteca, que mostra algumas das obras que li, embora eu tenha outro tanto em e-books não-fotografáveis!

Volta e meia alguém me pergunta: “A Literatura Fantástica acabou, saturou, morreu, não é?” E dou-me ao trabalho de explicar que nada pode estar mais longe da verdade. Desde que iniciei minha carreira, em 1988, continuo escrevendo e sobrevivendo da venda de livros de LitFant, sem interrupções. “Ah, mas a crítica despreza”, acrescentam.

Será verdade? Não creio. Tive 4 indicações ao Prêmio Jabuti e TODAS foram obras ligadas ao Fantástico: “HQs – Quando a ficção invade a realidade”, “Sangue de Lobo” (parceria com Helena Gomes), “Iluminuras” e “Heróis e suas Jornadas” trazem mitos, fantasia, folclore e viagem no tempo. O livro que me deu o Jabuti, “Iluminuras”, levou ainda outras premiações e até entrou na seleção White Ravens, da Biblioteca de Munique. Então, não imagino como alguém concluiria que o Fantástico está em baixa – e nem precisei citar os tantos autores da trinca Fantasia/FC/Horror no resto do mundo!

Quanto ao sucesso de “Cidade Invisível”, ele não apenas demonstra o fascínio que essa literatura pode alcançar ao chegar ao mundo do streaming, como prova de maneira inelutável que todos os autores que eu citei (e eu mesma) temos conteúdo de sobra para rechear muitas e muitas séries e filmes brasileiros de qualidade, por décadas a fio (olha a dica aí, dona Netflix!).

No momento, continuo mergulhada na leitura das autoras e autores brasileiros de LitFant, e espero ansiosamente pela próxima temporada de CI.