Mas não foram só as palestras que me enriqueceram neste evento. E a alegria de encontrar amigos de todo canto, para partilhar almoços e jantares? De conhecer o trabalho do pessoal da Confraria Braille, que deixa qualquer um de boca aberta? Comprar, entre as milhares de ofertas nas barraquinhas de livros, pocket books por 3 reais?
A maior surpresa, porém, foi mesmo o encerramento. Do cais, sai um cortejo puxado pelo “Xerife” da feira, o homem que a abre e fecha há décadas. Ele seguia, andando com a dificuldade natural da idade, com um sino que fazia repicar; a seu lado um sanfoneiro liderava a cantoria dos que iam atrás.
Cada barraca por que passavam ia se fechando, e os “anjos” da feira iam entregando rosas às pessoas – que entravam no cortejo, engrossando a cantoria e a emoção. Quando o Xerife passou por mim, um senhor a seu lado me entregou uma rosa amarela. Depois fiquei sabendo que aquele era o Secretário de Estado da Cultura em pessoa... Juntei-me ao cortejo com os amigos, e lá fomos nós, no caminho encontrando novos e velhos conhecidos. Gaúchos de todo o estado, brasileiros de cantos distantes, crianças, moços e velhos, todos emocionados com a festa que se encerrava depois de celebrar por mais de duas semanas o amor pelos livros.
Sei que é um prêmio poder vir, de tempos em tempos, à Feira do Livro de Porto Alegre. Esta 56ª foi especial para mim, como as passadas também foram, por diferentes motivos. E não consigo deixar de desejar que este exemplo de paixão e congraçamento fosse replicado em todos os estados do Brasil. Feira de livro tem de ser assim, em praça pública. Sem ingresso na porta. Sem preços abusivos nos serviços. Sem complicação para o acesso. Sem estandes luxuosos. Na rua, onde todo mundo é igual e se encontra, se acotovela, partilha capítulos do livro que descobriu e está folheando como quem achou um tesouro. Por que não temos uma Sônia, com sua equipe apaixonada pelo que faz, em cada cantinho deste país que precisa tanto, tanto, de livros?