quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Fim de Feira

A expressão “fim de feira” costuma se referir a um momento de confusão, cansaço, restos de coisas que ficaram quando algo terminou. No caso da Feira do Livro de Porto Alegre, contudo, esse sentido não se aplica: o final da feira de PoA, a maior exposição e venda de livros a céu aberto das Américas, é uma festa. Uma apoteose. Já compareci várias vezes a esse evento anual, e esta foi a primeira vez que assisti a seu encerramento.

Dias antes, passei pela etapa tradicional: sessões de autógrafos e palestra (este ano falei em uma mesa sobre Mitologia, que tive o privilégio de partilhar com o psicanalista Mário Corso). Depois de trabalhar, sobraram dois dias para curtir a 56ª Feira, e foram dois dias incríveis! Assisti a palestras fantásticas, como a de Regina Zilberman e Diana Corso: “Mulheres de Atenas – Personagens femininos na epopéia e na tragédia”. Ainda estava em estado de graça com o talento das palestrantes quando, no dia seguinte, assisti à extraordinária fala do jovem autor americano Benjamim Moser, biógrafo de Clarice Lispector, que demonstrou sua paixão pela escritora e discorreu sobre alguns elementos que fazem da voz de Clarice uma voz única na literatura.

Mas não foram só as palestras que me enriqueceram neste evento. E a alegria de encontrar amigos de todo canto, para partilhar almoços e jantares? De conhecer o trabalho do pessoal da Confraria Braille, que deixa qualquer um de boca aberta? Comprar, entre as milhares de ofertas nas barraquinhas de livros, pocket books por 3 reais?
E ainda pude passear pela feira com Sônia, a dinâmica organizadora da área infantil e juvenil, que me levou a um local secreto e assombrado nos armazéns do Cais, um andar misterioso em que se chega por uma escadaria sinistra, ideal para abrigar fantasmas, vampiros e monstros!

A maior surpresa, porém, foi mesmo o encerramento. Do cais, sai um cortejo puxado pelo “Xerife” da feira, o homem que a abre e fecha há décadas. Ele seguia, andando com a dificuldade natural da idade, com um sino que fazia repicar; a seu lado um sanfoneiro liderava a cantoria dos que iam atrás.

Cada barraca por que passavam ia se fechando, e os “anjos” da feira iam entregando rosas às pessoas – que entravam no cortejo, engrossando a cantoria e a emoção. Quando o Xerife passou por mim, um senhor a seu lado me entregou uma rosa amarela. Depois fiquei sabendo que aquele era o Secretário de Estado da Cultura em pessoa... Juntei-me ao cortejo com os amigos, e lá fomos nós, no caminho encontrando novos e velhos conhecidos. Gaúchos de todo o estado, brasileiros de cantos distantes, crianças, moços e velhos, todos emocionados com a festa que se encerrava depois de celebrar por mais de duas semanas o amor pelos livros.

Sei que é um prêmio poder vir, de tempos em tempos, à Feira do Livro de Porto Alegre. Esta 56ª foi especial para mim, como as passadas também foram, por diferentes motivos. E não consigo deixar de desejar que este exemplo de paixão e congraçamento fosse replicado em todos os estados do Brasil. Feira de livro tem de ser assim, em praça pública. Sem ingresso na porta. Sem preços abusivos nos serviços. Sem complicação para o acesso. Sem estandes luxuosos. Na rua, onde todo mundo é igual e se encontra, se acotovela, partilha capítulos do livro que descobriu e está folheando como quem achou um tesouro. Por que não temos uma Sônia, com sua equipe apaixonada pelo que faz, em cada cantinho deste país que precisa tanto, tanto, de livros?
Não sei a resposta, mas de uma coisa eu sei: ano que vem estarei de novo na praça da Alfândega, na capital gaúcha, no meio do povo, descobrindo mais livros e mais gente querida. 57ª Feira do Livro de Poa, me aguarde. Nem que seja no fim da feira.




Um comentário:

Cláudia B. disse...

A FEIRA DE PORTO ALEGREÉ MESMO FANTÁSTICA.Quem ama livros espera ansiosamente pelo final de outubro, início de novembro, não só pela oportunidade de comprar livros mais baratos, mas pela AURA do lugar e pelas diversas atividades gratuitas disponíveis ao público!