sexta-feira, 24 de agosto de 2007

Lançamento de livro: HQs



A Editora Scipione convida para o lançamento
do novo livro de Rosana Rios:

HQs - quando a ficção
invade a realidade


Dia 15 de setembro no Rio de Janeiro
das 14h30 às 15h30
Estande da Editora Ática-Scipione
Bienal do Livro no Riocentro - RJ

Dia 29 de setembro em São Paulo
das 14 às 17h30h
Livraria Cultura do Cj. Nacional
Av, Paulista, 2073 - São Paulo

domingo, 19 de agosto de 2007

Crônica de um Fernão dos anos 60






Eu estudei no Instituto
de Educação Fernão Dias Pais,
em Pinheiros. Na foto ao lado
estou usando o uniforme das escolas
estaduais da época...
e foi um período muito marcante.
Segue uma crônica que escrevi
homenageando minha "Alma Mater"...
o querido Fernão.

1967.
Eu: 11 anos de idade.
Meu cenário: o bairro de Pinheiros. 
A vida passada era uma infância tranquila, a despeito da turbulência política que desfilava insuspeita pelo pano de fundo de minha inocência. A vida à frente era uma vasta incógnita, e nem eu nem ninguém àquele momento suspeitava a amplitude da abertura de caminhos que o final de milênio descortinaria.

Única certeza da menina que migrava do Grupo Escolar Godofredo Furtado, na quieta rua João Moura, para o Instituto de Educação Fernão Dias Pais, na agitada Pedroso de Moraes: grandes mudanças estavam prestes a acontecer.
Eu havia passado por 6 meses do cursinho de admissão de dona Guiomar e dona Iolanda. Na sala de sua casa na rua Mateus Grou, preparara-me para o desafio, monstruoso aos 11 anos, de ser admitida aos mistérios dos Institutos de Educação...

Testemunho da qualidade do curso primário do Grupo, bem como do cursinho das duas irmãs, foi o fato de figurar não apenas entre os primeiros colocados no exame de admissão do Fernão, mas também no do Caetano de Campos. 
Pinheiros, porém, bairro amado da família, teve precedência: e a rua Pedroso de Moraes se tornaria ponto central em torno do qual eu gravitaria nos 7 anos seguintes.
Primeira Série A da manhã, 42 meninas vindas de diferentes Grupos, diferentes antepassados, diferentes costumes. Durante os 4 anos do Ginásio, com as naturais inclusões e exclusões, o cerne da turma permaneceu inalterado, e aquela lista de chamada gravou-se, quase indelével, na memória. A colônia nipônica era forte presença em Pinheiros; a lista, que se iniciava com Aiko, terminava com Yassumi. Recheada pelos mais díspares sobrenomes, em 1967 tinha início uma coleção de amigas que, se os anos separariam fisicamente, manter-se-iam unidas em espírito.

Pois as matérias aprendidas naquele Fernão dos anos 60 gravar-se-iam em nós indelevelmente.
Dos professores, alguns minha memória não deixa escapar. Dona Maria do Carmo e as exigências da Análise Sintática; dona Maria Rita, com quem cantamos Allons enfants de la patrie, le jour de guerre est arrivée, sem desconfiar que em Paris outros jovens estariam cantando a Marseillese ao som do estourar das bombas da polícia. Paris, para nós, era apenas o ponto com o qual Dona Deolinda nos ensinava a bordar... e, entre a descoberta da temível Matemática, e o Canto Orfeônico com as melodias singelas do professor Aricó Jr., a inesquecível dona Maria José irrompia na sala de aula descortinando-nos o mundo, entusiasmando-nos com a transformação das rochas ígneas em metamórficas, assombrando-nos com a descrição das ruínas de Pompéia, dos fiordes da Noruega e da garra dos holandeses que arrancavam seu país do mar. 

1967 passou e veio 68, com toda a efervescência em que o governo militar, o tropicalismo, a incerteza, o rock, o AI5, a contracultura e a puberdade nos mergulhariam. Em 69 ouvíamos os Beatles na rádio Excelsior, assistíamos a românticas novelas na incipiente TV Globo, líamos a Coleção das Moças na Biblioteca do Fernão e começávamos a conhecer a língua inglesa com o Let’s Learn English de dona Zilda. Ah, e decorávamos Castro Alves e Gonçalves Dias para os Jograis da aula de Português: Deus, ó Deus, onde estás que não respondes? Tu choraste em presençada morte? Em presença da morte choraste? Quantos textos declamados sob as luzes de lanternas cobertas com papel celofane colorido... superprodução emocionante, que os recursos informatizados de hoje não imitam!

A década de 70 iniciou-se com nossa entrada no mundo adulto: tínhamos 14 anos e as salas masculinas chamavam nossa atenção... Apenas no Colegial o Fernão nos permitiria o luxo das classes mistas. A timidez era a regra, apesar das nossas minissaias e dos nossos jornaizinhos, onde escrevíamos inocentes dissertações sobre dezenas de assuntos sérios a respeito dos quais pouco ou nada sabíamos.
Mas escrevíamos, não obstante.

O colegial começou a nos separar. Algumas partiram para outros colégios, outras mudaram de período; e tantas de nós iniciaram os primeiros namoros ali mesmo, no pátio amplo entre as árvores, os murinhos convidativos e a cantina. 
1973 trouxe a formatura e me viu deixar o Fernão. Pinheiros havia mudado: a rua Teodoro Sampaio, que em 67 ainda abrigava bondes e tinha duas mãos, agora era corredor de ônibus e centro comercial de intenso tráfego humano. O Fernão crescera e ganhara a estátua do bandeirante.

O uniforme fora trocado duas vezes, e o comprimento exigido das saias passara por tantas alterações quanto nossas flutuações hormonais adolescentes...
Estávamos prontas para tentar o ingresso no mundo universitário. E partimos daquele ponto comum rumo a outros lugares, próximos ou distantes, mas sempre desafiadores. Algumas de nós mantiveram contato; outras voaram mais longe e sumiram no horizonte. Porém não há nenhuma de nós, daquela Primeira série A de 1967, que possa negar a influência enorme que o Fernão teve em nossas vidas. 

Faz já 30 anos que deixei o Fernão, e às vezes ainda sonho que estou ali dentro, sentada em uma sala de aula; e é apenas nesses sonhos que um vislumbre da criança e adolescente que eu fui aflora em mim. Um não-sei-quê de entusiasmo, de esperança, de medo do desconhecido e de ansiedade pela abertura de caminhos que o futuro traz... Então acordo e lembro que não me sento mais em bancos escolares. 

Que pena. O meu Fernão ficou parado em 1973. Mas nunca será esquecido.

quarta-feira, 15 de agosto de 2007

Entrevista para a Gazeta do Povo, de Curitiba - ago 07


Há alguns dias fui entrevistada pela jornalista Luciane Horcel, da Gazeta do Povo, de Curitiba. Segue aqui o texto integral da entrevista; parte dela saiu na edição de 02 de agosto de 2007, com o título: Literatura Fantástica - Uma Porta para Outro Mundo.

Vc já participou de eventos, seminários de literatura fantástica, não é? Conte sua ligação com essa área.
Sou autora de Literatura Infantil e Juvenil, trabalhei por 11 anos como roteirista de programas infantis nas TVs Cultura, Bandeirantes e Record. Como autora, já publiquei 93 livros ao longo de 19 anos de carreira. Nessa trajetória de ficcionista, a Literatura Fantástica é não apenas fundamental na minha bagagem de leituras, mas é matéria-prima para meu trabalho: a fantasia, o mito, o folclore, tudo isso me alimenta e permeia o que escrevo. Como tenho muitos amigos que atuam na área de literatura, quadrinhos, eventos, acabo participando desse mundo de acontecimentos que incluem palestras, oficinas e encontros que têm a fantasia como ponto central. Sou também owner de um Grupo de Estudos de Literatura Fantástica, que começou na Internet com um grupo de amigos e tem rendido muita troca de idéias e até parcerias de trabalho.

Como é possível definir um livro como literatura fantástica? Quais são as características desse gênero?
Segundo Ítalo Calvino, em seu livro "Contos Fantásticos do Século XIX", o que define a essência da literatura fantástica é o confronto entre a realidade do mundo que conhecemos através da percepção, e a realidade do mundo do pensamento - aquilo que imaginamos. Dessa "trombada" entre o real e o imaginário, entre o cotidiano e o que-quem-sabe-seja-possível, surgem as histórias de outros mundos, de seres fantasiosos, de acontecimentos sobrenaturais... então na verdade sob esse rótulo de "Fantástico" teremos subgêneros tão díspares quanto as histórias de terror, os épicos de fantasia, as obras conhecidas como "Espada e Feitiçaria", além dos gêneros ancestrais: os mitos e contos folclóricos, em que o fantástico é constante. Há estudos na Internet que definem dezenas de subgêneros da ficção fantástica. Chegar a uma lista consensual é quase impossível...

Quais são os elementos recorrentes em uma literatura fantástica? Um mundo diferente? Seres estranhos?
Há obras que se espelham em pioneiros como Tolkien, que criou o mundo das suas histórias, Arda, para criar também outros universos com características próprias e seres que habitariam neles. Isso é comum ainda entre autores de ficção científica, que podem idealizar um planeta (ou vários) e escrever de acordo com as leis que regem o planeta
criado. É o caso de "Duna", de Frank Herbert, um clássico da FC e que se passa num mundo específico e obedecendo a leis específicas; ou do "Guia do Mochileiro das Galáxias", de Douglas Adams, uma sátira fantástica. Mas uma obra fantástica pode também se passar no nosso mundo normal, desde que no enredo ocorram fatos que as leis normais da Natureza não expliquem (ou pelo menos que não expliquem agora; com os avanços da tecnologia talvez haja explicações no futuro). Histórias que lidam com elementos míticos e folclóricos, magia, vampiros, fantasmas, super-poderes... tudo isso pode ser considerado ficção fantástica.


Analise as principais literaturas fantásticas da atualidade.
"O Senhor dos Anéis" é a grande obra fantástica do Século XX, e que marcou o imaginário dos leitores com um mundo cheio de elfos, anões, magos e uma luta épica para livrar o mundo de um domínio maligno. O grande detalhismo com que Tolkien construiu a narrativa, seu estilo peculiar de escrever, que faz o leitor se sentir parte da Terra-média, serviu de inspiração para várias gerações de autores. Harry Potter é só mais uma das séries que bebeu nas fontes de mestre Tolkien. Antes de J.K.Rowling, ja encontrávamos outras obras em que o protagonista é um garoto aprendiz de magia, como na série Mundos de Crestomanci, de Dianne Wynne Jones, ou os Livros da Magia, no s quadrinhos de Neil Gaiman.
O grande trunfo de Rowling foi publicar o primeiro Harry Potter num mundo de leitores sedentos por fantasia; aqui no Brasil, por exemplo,na época em que HP foi lançado, a maioria dos editores não publicava nada ligado ao fantástico; hoje, ao ver o potencial de vendas de uma obra que brinque com magia, mitos e outros elementos ancestrais, todos querem publicar fantasia.

Eragon é outro livro surgido não apenas com inspiração em Tolkien (como fica óbvio pela presença na história de elfos e anões...), mas também inspirado em aventuras de RPG, Role-Playing Games. Existem dezenas de títulos que nasceram diretamente das mesas de RPG, começando com obras de Steve Jackson e Ian Livingstone, e que são consumidos por aficionados por esse tipo de jogos. Bons exemplos são a série Dragonlance, de Margareth Weiss e Tracy Hickman. Trata-se de um mundo em que existem dragões e cavaleiros de dragões, de mais uma luta entre dominadores e dominados.
Aliás, o uso da fantasia e da ficção científica para metaforizar a luta humana pela liberdade é uma constante, e está presewnte não apenas em Tolkien mas em grandes clássicos como "1984", de George Orwell, "Admirável Mundo Novo", de Aldous Huxley, e outros - sem esquecer da HQ clássica de Alan Moore, "V de Vingança", que rendeu um filme nos últimos anos.
Já a série "A Mediadora", de Meg Cabot, se inscreve em uma lista enorme de autores que lidam com o fantasmagórico, as relações entre nosso mundo e o mundo dos espíritos. Quase todos os autores românticos escreveram contos de fantasmas: podemos traçar uma linha do tempo que vai de E.T.A. Hoffmann e Edgard Alan Poe até Stephen King, passando por Balzac, Dickens e Sheridan Le Fanu.

Mas no mercado hoje existem muitas outras obras de fantástico que surpreendem, como a maravilhosa trilogia "Fronteiras do Universo", de Phillip Pullman (e que em dezembro estréia no cinema com atores do calibre de Nicole Kidman e Daniel Craig), a série Artemis Fowl, do irlandês Eoin Colfer, os hilariantes livros da série "Discworld" de Terry Pratchett, as incursões pela literatura do próprio Neil Gaiman, e várias outras...

Há clássicos fantásticos? Podemos considerar O Pequeno Príncipe, A história Sem fim, Dom Quixote como obras fantásticas ou não? Há algum clássico fantástico? Fale sobre isso.
Sim, algumas obras se tornam clássicas pela grande aceitação do público através dos séculos. Obras como "O Pequeno príncipe", "O menino do dedo verde" e "Fernão Capelo Gaivota", que fizeram sucesso na década de 1970 podem ser considerados ficção fantástica clássica dedicada ao público juvenil, com toques filosóficos. O mesmo pode ser dito de "O Mundo de Sofia", de J. Gaarder, que em meio a uma viagem pela história da filosofia traz elementos de fantasia também. Já a obra-prima de Michael Ende, "A História sem Fim", assim como "O Mágico de Oz", "A Fantástica Fábrica de Chocolate" e os contos de Hans Christian Andersen se inserem nessa galeria de grandes clássicos do fantástico.
"Dom Quixote" é outra história. Não há fantástico nesse livro, a não ser nas narrativas dentro da narrativa... ele é a grande obra literária de língua espanhola, que satiriza justamente o excesso de fantasia, criando um personagem que enlouqueceu de tanto ler fantasia! Esse é um clássico da Literatura que não pode ser classificado em um gênero ou outro, é uma obra-prima e ponto final.

Há quem diga que a literatura brasileira não possui obras fantásticas na área juvenil. Isso é verdade?
Pelo contrário, a Literatura Juvenil Brasileira é riquíssima e cheia de exemplos excelentes de trabalho com o fantástico. Para citar apenas alguns nomes, podemos lembrar Júlio Emílio Braz, Marina Colasanti, Lygia Bojunga Nunes... São muitos os autores brasileiros que lidam com o fantástico, eu inclusive.

Os livros de Murilo Rubião são considerados literatura fantástica, mas são bem diferentes de livros como Harry Potter, Eragon...
No caso de Rubião e de outra precursora desse gênero no Brasil, Dinah Silveira de Queiroz, eu diria que temos uma literatura mais ligada a outro subgênero, este bem peculiar da América Latina: o Realismo Mágico. Também é fantástico, mas sob outra roupagem, outra maneira de ver o mundo (ou os mundos), como se pode apreender da leitura de Gabriel Garcia Márquez, por exemplo. A força da literatura de Márquez mostra como ele (e outros autores latinos, como Rubião, Queiroz e até Isabel Allende) deram importância ao fantástico sem perder o pé da realidade.

Você escreve livros de literatura fantástica, não é? Fale sobre a criação das histórias? Como acontece a inspiração? Os principais temas?
Escrevo para crianças e jovens, e com tantos livros publicados, é difícil definir temas, pois tudo serve de inspiração para se escrever uma história. Quando escrevo, não digo a mim mesma "Oh, hoje vou escrever um texto fantástico ou uma história que fale de tal assunto"... Os personagens e as aventuras vão surgindo, nascendo da necessidade de
escrever que faz parte da vida de todo autor. Viver sem criar, sem dar vida a personagens que estão aqui, dentro da cabeça da gente querendo sair, seria
impossível. Claro que grande parte dos meus livros lida com elementos da fantasia: posso citar como exemplos "O Último Portal", da série "Segredo das Pedras", (ed. Companhia das Letras) escrito em parceria com Eliana Martins; esse fala num mundo
subterrâneo onde as leis são bem diferentes do nosso, mas que pode também influir em nosso mundo. Tenho os infantis "O Monstro monstruoso da caverna cavernosa" (ed. DCL), "O Outro lado da história" (ed. Moderna), "Ninho de Mafagafos" (ed. Saraiva), "A vassoura voadora e os brigadeiros de chocolate" (ed. Studio Nobel), entre outros.
Estou lançando agora o livro "HQs - quando a ficção invade a realidade", pela Ed. Scipione. Ele fala sobre a possibilidade de os personagens de quadrinhos viverem num mundo paralelo ao nosso. Tudo isso nasce da minha paixão pelos livros em geral, e pelo fantástico em particular.
Olá, este é o meu espaço. Aqui eu posto artigos, textos, poemas e notícias relacionadas com os meus escritos.
Para conhecer o meu site, visite também www.segredodaspedras.com
Bem-vindos!

Rosana Rios